sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

CLIENTES DA TENDA PLANEJAM MANIFESTAÇÃO CONTRA ATRASO DE OBRAS

Proprietários de unidades de 21 empreendimentos vão protestar contra a empresa em São Paulo, no Rio e em Belo Horizonte

Fonte: IG (Marina)
http://economia.ig.com.br/clientes+da+tenda+planejam+manifestacao+contra+atraso+de+obras/n1237848530507.html

O contador Anderson dos Santos cansou de ligar no serviço de atendimento ao consumidor da construtora Tenda para saber quando a empresa entregará as chaves do seu apartamento. Ele e outros clientes de 21 empreendimentos da Tenda na região metropolitana farão uma manifestação neste sábado para protestar contra os atrasos nas obras da construtora no centro de São Paulo. A expectativa do contador é que 300 pessoas participem do ato. Clientes do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte também vão fazer um protesto no mesmo dia.



Foto: Guilherme Lara Campos/Fotoarena
Anderson dos Santos, cliente da Tenda que está organizando protesto contra a empresa
Neste ano, o número de reclamações de clientes de todas as construtoras sobre atraso de obras em imóveis comprados na planta aumentou. Ao todo, 523 pessoas processaram as construtoras neste ano no Estado de São Paulo, 160% mais do que há dois anos, segundo levantamento do advogado Marcelo Tapai, especialista em direito imobiliário. A Tenda é a empresa com o maior volume de ações no TJ-SP, 196 processos no total.
O iG mapeou 27 obras em atraso da construtora. Segundo a Tenda, 12 delas estão prontas, mas a documentação não está completa, por isso os imóveis ainda não foram entregues.

Foto: Anderson dos Santos
Imagem do interior do Residencial Ferrara, lançado pela Tenda; imóvel está pronto, mas não foi entregue
Anderson se reúne todos os meses com seus futuros vizinhos, os compradores dos apartamentos do Residencial Ferrara, localizado em Poá, na região metropolitana de São Paulo. Ele diz que alguns dos blocos já estão prontos, mas não foram entregues. O morador mostrou à reportagem do iG fotos do empreendimento, que mostram a grama crescida no pátio e limo na construção. A reportagem não teve acesso ao interior do condomínio. Indignado com os atrasos, Anderson entrou em contato com outros clientes para organizar a manifestação deste sábado.

O casal Valdiney Messias Gomes e Flavia Pessoa está entre os prejudicados pelo atraso. Eles venderam uma casa para comprar um imóvel no residencial São Luiz Life, em São Paulo, em fevereiro deste ano, com as obras já em andamento. De acordo com o casal, a construtora os informou que eles poderiam se mudar em maio.
Enquanto não têm a chave do apartamento novo, Flavia e Valdiney improvisaram um quarto na garagem da casa da mãe dele. Eles dividem o local com o filho de quatro anos. Flavia está grávida de sete meses e seu maior medo é que o apartamento não fique pronto antes de o bebê nascer. “Eu não fiz chá de bebê porque não temos lugar para isso. Esse vai ser o pior Natal da minha vida”, afirma.
Construtora ‘herdou’ problema
A maioria dos empreendimentos atrasados da Tenda foi lançada antes de 2008, ainda sob a gestão antiga da empresa, afirma o diretor de incorporação da Gafisa, Antonio Carlos Ferreira. A Tenda foi adquirida pela Gafisa em outubro de 2008. “Algumas obras estão atrasadas porque não foram iniciadas no prazo e não tiveram uma velocidade adequada de construção na gestão passada”, explica Ferreira. A expectativa da empresa é que até o fim de 2011 os problemas da Tenda estejam equacionados.
 “A Tenda lançou muitos empreendimentos em 2007 e 2008, mas não estava preparada para administrar um volume tão alto. O reflexo veio agora”, afirma Flávio Conde, analista do Banif.
 Para o analista de mercado imobiliário do Santander, Flávio Queiroz, a Gafisa precisa de pelo menos um ciclo completo de construção para sanar os problemas da Tenda, ou seja, cerca de três anos. Os atrasos fazem parte deste período de adequação. Sem a venda para a Gafisa, a Tenda poderia ter falido, segundo os especialistas. “Ainda é cedo para culpar a Gafisa de não ter salvado a Tenda”, diz Queiroz.
 O modelo de gestão da Tenda antes da aquisição da Gafisa era inadequado para os empreendimentos focados na baixa renda. “Eles faziam projetos personalizados para cada lançamento, mas, neste segmento, é preciso padronizar para reduzir custos”, diz o analista.
 Muitos dos atrasos de obras na construção como um todo é reflexo da crise econômica, que afetou o Brasil a partir de setembro de 2008, de acordo com especialista. Com a escassez de crédito, algumas construtoras passaram a reduzir o ritmo das obras para preservar o seu caixa.
 O diretor de incorporação da Gafisa afirma que a Tenda não atrasou obras de propósito para preservar seu caixa, pelo contrário. “Durante a crise, nos reduzimos os lançamentos, tanto da marca Tenda quanto da Gafisa, mas não deixamos de investir nas obras em curso”, diz Ferreira. Antes da aquisição da Tenda pela Gafisa, a empresa investia cerca de R$ 37 milhões por mês na construção dos seus empreendimentos. Em setembro, as despesas com obras atingiram R$ 95 milhões.
 O consumo de caixa da Tenda para financiar as obras tende a melhorar. A maioria dos lançamentos dos empreendimentos da marca em 2007 e 2008 não utiliza recursos do crédito associativo da Caixa Econômica e, portanto, necessita de capital próprio para financiar a construção. No terceiro trimestre, 62% dos lançamentos foram enquadrados nesta modalidade.
 No modelo tradicional de financiamento do setor, as empresas repassam os clientes para instituições financeiras apenas após a conclusão da obra. Assim, elas recebam cerca de 30% do valor dos imóveis durante a construção, mas precisam desembolsar recursos que podem chegar a 60% do valor geral de venda (VGV) do empreendimento para a construção. Com o crédito associativo, as incorporadoras conseguem antecipar as receitas ainda no período da obra.

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